Passa pouco das nove da manhã e já o telemóvel de Rosa José tem várias notificações de alerta. São mensagens de migrantes a trabalhar no concelho, sobretudo na agricultura, que recorrem à aplicação WhatsApp para tentar obter junto do CLAIM de Odemira respostas a questões relacionadas, entre outras, com a sua situação laboral ou familiar em Portugal.
"Neste momento, muitas vezes trabalha-se mais assim do que propriamente fazendo atendimentos presenciais", confidencia ao "SW", de telemóvel na mão, Rosa José, técnica da cooperativa TAIPA, a entidade gestora do Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) de Odemira.
"Desde 2014 já vamos perto de 16 mil atendimentos [no CLAIM], o que dá uma média de 200 atendimentos por mês, sendo que alguns são presenciais e outros são à distância. As tecnologias permitem que, através do WhatsApp ou do email, se consiga responder a algumas necessidades desta comunidade", acrescenta Teresa Barradas, vice-presidente da TAIPA.
Estes números demonstram bem o alcance do CLAIM de Odemira, uma das várias iniciativas que a TAIPA dinamiza na área da integração de migrantes. Esta resposta, gratuita, nasceu em 2014 com o objetivo de ser um gabinete "de acolhimento, informação e apoio descentralizado" aos que chegam de foram para trabalhar no concelho, na sua maioria provenientes do Nepal, da Índia e do Bangladesh.
Sem o CLAIM "haveria sempre o risco de desinformação, o que colocaria esta comunidade em situação de maior fragilidade socioeconómica e social em geral. Automaticamente, estariam em maior situação de eventual exclusão social", observa Teresa Barradas.
Para tal implementar o CLAIM foi criado um consórcio, recentemente renovado por mais três anos, que tem a TAIPA como entidade promotora e executora e a Câmara de Odemira e cinco empresas agrícolas e de trabalho temporário enquanto entidades financiadoras. A estas juntam-se ainda quatro juntas de freguesia e duas associações.
A grande particularidade da resposta é a sua itinerância, com atendimento descentralizado em São Teotónio, Longueira/Almograve e Vila Nova de Milfontes, freguesias onde se encontra a maior parte dos migrantes residentes."Sendo o território de Odemira tão disperso em si em termos geográficos, era uma resposta de proximidade que era impensável não existir. Era algo que tinha de acontecer e que é para manter", justifica Teresa Barradas.
Segundo a vice-presidente da TAIPA, este serviço é também "inovador" por tentar, "de todas as vezes" que o protocolo é renovado, "juntar novos parceiros" ao consórcio, "que se vai realmente alargando e sendo uma resposta cada vez mais reconhecida pela comunidade local e migrante neste sentido de primeira linha".
No CLAIM de Odemira os migrantes encontram, entre outros, apoio para tratar da regularização da sua situação de estadia em Portugal e fazer pedidos de reagrupamento familiar ou de nacionalidade, mas a Covid-19 acabou por trazer novas necessidades para esta população.
"Agora têm-se dirigido mais ao CLAIM para questões de apoio social, também para inscrição nas escolas, para procura de emprego e também para questões relacionadas com o acesso à saúde e habitação", revela Teresa Barradas.