Os projetos na área da biologia de Carolina Cabecinha, Denise Manuel, Érica Reis e Joana Martins, todas alunas do Agrupamento de Escolas de Odemira (AEO), foram premiados durante a edição deste ano do Concurso Nacional para Jovens Cientistas, que terminou na passada semana, no Porto, durante a Mostra Nacional de Ciência.
O evento reuniu mais de 300 alunos e 60 professores, que apresentaram ao júri um total de 107 projetos científicos de diferentes áreas da ciência e da tecnologia.
Os projetos das alunas de Odemira foram concebidos no âmbito do Clube de Ciência Viva/BIGEO do AEO, com Carolina Cabecinha e Denise Manuel, alunas do 10º ano, a ganhar Prémio Universidade Júnior com um trabalho que estudou a evolução da alimentação da lontra-europeia nos últimos 30 anos.
Já Érica Reis e Joana Martins, alunas do 12º ano, ganharam uma menção honrosa e a participação numa Mostra Internacional de Ciência, que se realizará em França no próximo ano, devido à sua uma investigação em entomologia forense.
As quatro alunas ganharam ainda um prémio atribuído pela Porto Editora.
Para a coordenadora do Clube de Ciência Viva/ BIGEO, a professora Paula Canha, os prémios conquistados durante a Mostra Nacional de Ciência são um estímulo para toda a comunidade educativa.
"Estes prémios funcionam como uma avaliação externa, ou seja, um comprovativo da excelência dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos", afirma a docente ao "SW".
O trabalho que permitiu a Carolina Cabecinha e Denise Manuel vencer o Prémio Universidade Júnior abordou a evolução da alimentação da lontra-europeia nos últimos 30 anos, comprovando que o lagostim-do-Luisiana, classificado como espécie invasora, se tornou num recurso alimentar importante, dada a escassez hídrica que afeta a bacia hidrográfica do rio Mira.
"Os resultados das amostragens na Ribeira do Torgal indicam que a percentagem média de ocorrência de peixes na dieta da lontra diminuiu 36% e a de lagostim aumentou 39% nos últimos 30 anos", explicou Paula Canha.
A docente acrescenta que "a baixa ocorrência de peixes nos dejetos analisados, reforça os alertas que têm vindo a público sobre o declínio das populações de peixes desta ribeira, incluindo espécies protegidas como a boga-portuguesa, o escalo-do-sul ou o escalo-do-Mira".
"De facto, os peixes são a presa preferencial da lontra, que só recorre a outras presas quando os peixes não são suficientes", afiança Paula Canha, para quem o projeto de Carolina Cabecinha e Denise Manuel "chama a atenção para o risco de extinção destas espécies protegidas na Ribeira do Torgal".
Por sua vez, a menção honrosa atribuída a Érica Reis e Joana Martins tem por base uma investigação em entomologia forense, que utiliza o estudo de insetos como ferramenta auxiliar da investigação criminal, nomeadamente para datar o intervalo pós-morte.
"A Érica e a Joana investigaram os insetos que colonizam cadáveres em Odemira, focando-se nos primeiros dias de decomposição", explicou Paula Canha, acrescentando que o "trabalho de campo recorreu a pedaços de músculo de porco para simular cadáveres".
A coordenadora do BIGEO adiantou que "os resultados mostram que a exposição ao sol influencia a abundância e diversidade de dípteros que se encontram no cadáver e que cada região tem uma sucessão própria de insetos colonizadores de cadáveres".
A par disso, conclui, "as alunas identificaram algumas espécies de insetos que nunca tinham sido encontrados em estudos de entomologia forense em Portugal".