O futuro das práticas tradicionais e a forma como a produção artesanal pode ser integrada na educação moderna vão estar em discussão, nesta sexta-feira e sábado, dias 28 e 29 de junho, durante um debate em Odemira. Integrada na edição de 2024 do Fórum Artes e Ofícios, dinamizada pela plataforma Origem Comum e promovida pela Câmara de Odemira, a iniciativa é dedicada ao tema "Transmitir o Fazer".
Durante os dois dias, vão estar no cineteatro Camacho Costa artesãos, designers, agentes das indústrias criativas, profissionais, investigadores e especialistas das artes e ofícios, cultura, ensino e património, "para debater e partilhar ideias e experiências sobre a educação artesanal e as práticas tradicionais".
"Queremos criar uma conversa quase informal, quase horizontal, entre todos" e "debater como é feita a aproximação [das práticas tradicionais e artesanais] à educação e à sociedade civil", antecipa ao "SW" Álbio Nascimento, um dos curadores do fórum, juntamente com Kathi Stertzig, com quem delineou a Estratégia Nacional para as Artes e Ofícios Tradicionais.
Segundo este designer, o objetivo do evento é "manter estas artes vivas" e poder dar-lhes "utilidade no mundo contemporâneo".
O debate arranca às 10h00 de sexta-feira, 28, contando na sessão de abertura com as intervenções dos dois curadores, Álbio Nascimento e Kathi Stertzig, assim como do presidente da Câmara de Odemira, Hélder Guerreiro.
Durante a manhã terá ainda lugar o painel "Aprender com as mãos", enquanto de tarde, a partir das 14h30, a discussão será em torno da "Transmissão do saber-fazer". Neste primeiro terá ainda lugar, pelas 21h30, uma sessão de filmes e concertos no Jardim da Fonte Férrea.
No sábado, 29, realiza-se às 10h00 o painel "A valorização do conhecimento prático", enquanto que depois de almoço, a partir das 15h00, decorrem "Oficinas de reflexão" sobre temas como as práticas artesanais nas escolas ou a aprendizagem das artes e ofícios. Para as 17h00 está agendado um "momento prático de reflexão sensorial" e, depois das 21h30, há um "cinebar" no Espaço CRIAR.
O debate agendado para o fim de semana integra o programa da edição deste ano do Fórum Artes e Ofícios, que decorre ao longo dos meses de junho e julho no concelho de Odemira, tendo os Açores como região convidada.
A iniciativa, dinamizada pela plataforma Origem Comum e promovida pela câmara municipal, é organizada pela CACO Associação de Artesãos do Concelho de Odemira e conta com parceria da Direção Geral das Artes, através do Programa Nacional Saber Fazer e do Plano Nacional das Artes.
No 'centro das atenções' tem estado "a valorização das artes e ofícios vernaculares e a importância da transmissão do conhecimento artesanal e o seu impacto sociocultural e económico na promoção de sociedades mais equitativas e sustentáveis".
Nesse âmbito, o programa tem contado com oficinas dedicadas a fibras naturais, como o buínho, o vime ou o esparto, assim como exposições, workshops, performances, a inauguração da Olaria Municipal de Odemira e diversas "atividades satélite", promovidas por parceiros locais. "Desde a inauguração tem sido um sucesso", afiança Álbio Nascimento.
Questionado sobre a metas do Fórum Artes e Ofícios, o curador da iniciativa explica que a ambição passa por "provocar alguma discussão sobre o que são os benefícios da aprendizagem através da prática manual".
"Vivemos num mundo cada vez mais bidimensional e estamos a esquecer o que são as raízes culturais dos lugares", defende, lembrando que em Portugal existe "um património do saber-fazer tradicional que é quase único na Europa". Por isso, continua, o fórum pretender debater "a forma como estamos a fazer a transmissão de conhecimento das artes tradicionais".
"Depois temos outra linha de discussão sobre os benefícios de aproximar a sociedade e a educação formal destas práticas, ou seja, sobre como podemos voltar a ter a presença destas práticas manuais artesanais locais nas escolas", conclui.