12h32 - quinta, 04/07/2019
Um desafio sério...
Carlos Pinto
n Os cidadãos do concelho de Odemira (e todos aqueles que visitam o território com frequência) há muito que se habituaram a encontrar, caminhando junto às estradas, grupos de dezenas de estrangeiros, grande parte deles facilmente identificáveis como sendo provenientes da Índia ou de outras zonas do continente asiático. São homens e mulheres que chegaram a Portugal (e a Odemira) para trabalhar no campo, dando resposta às necessidades da agricultura na região. Paralelamente foram-se instalando em diversas localidades do concelho, vivendo em comunidade e muitas vezes sem grande contacto com os vizinhos portugueses.
Este é um quadro com que Odemira se debate desde há uma década, com notório incremento nos últimos cinco anos. Uma realidade que faz do concelho um dos principais pontos de acolhimento de migrantes no país (com excepção dos grandes centros urbanos) e que, desde logo, mereceu a devida resposta por parte das entidades locais, com a Câmara Municipal à cabeça, através de um trabalho sustentado de integração que tem alcançado resultados bastante positivos.
Mas tudo tem o seu limite e em Odemira parece estar a chegar-se a esse momento. "Tudo tem de ser feito com planeamento, escala e medida. E, neste momento, o que sentimos é que efectivamente não estão definidos esses parâmetros, o que faz com que realmente a migração no concelho de Odemira, face à escala que está a ter, esteja a causar um impacto que não é aquele que desejávamos", vinca a vereadora Deolinda Seno Luís em declarações ao "SW" [ver página 8], reconhecendo que a afluência de migrantes no concelho já ultrapassa "claramente a necessidade de mão-de-obra das empresas agrícolas".
Ora este é um desafio bem sério que Odemira e todas as regiões da Europa tem pela frente. Talvez por isso, parece que finalmente a União Europeia e algumas das instituições sediadas em Bruxelas estão a "despertar" para o assunto. É certo que já vêm tarde, mas ainda a tempo
E seria essencial que, de uma vez por todas, a Europa dos 28 (por enquanto) possa juntar esforços, no sentido de melhor responder aos desafios criados pelas migrações, que são inevitáveis.
A solução não será fechar fronteiras, criar guetos, limitar a circulação de pessoas ou, sequer, negar a quem vem de fora a oportunidade de por cá encontrar condições de vida mais positivas. Deve-se, isso sim, construir políticas e criar mecanismos (inclusive financeiros) para que todo este processo se desenrole de forma sustentável. Caso contrário, em breve começarão a surgir desequilíbrios sociais e de outra ordem, com as naturais consequências (negativas) para as comunidades que cá estão e para aqueles que cá querem chegar.
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