15h18 - quinta, 13/02/2020

O ambiente para as pessoas ou contra as pessoas...


Fernando Almeida
Terei tido desde sempre a pouca sorte de olhar para o mundo de forma independente e basear apenas na razão e na lógica as tentativas de o perceber. Quanto mais não valeria ser como os muitos outros, que se contentam com explicações comuns, ainda que simplistas? Evitava certamente muitas confrontações, mas sobretudo muitas invejas (por vezes mesmo ataques vis) que ao longo da vida me foram dirigidos.
Mas é assim, para me limitar a reproduzir o que todos dizem de modo superficial, apenas porque é opinião corrente e conta com a aceitação generalizada, mais valeria nem sequer pensar, nem sequer dizer, e nem sequer escrever. Antes polémico a desinquietar consciências adormecidas, que animal de rebanho que vai para onde forem todos os outros. Com este mote inicial poderia falar de educação, de origem da língua, de toponímia… mas hoje vou falar de ambiente.
Não entendo por que motivo se protege de forma tão diferente o ambiente em diversas áreas do mesmo país. Para ser verdadeiro e justo tenho que confessar que este nem é na origem um pensamento meu, mas antes, pasme-se, de alguém que dirigiu o antigo Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza durante anos – o notável biólogo e ambientalista José de Almeida Fernandes. Pois foi a ele precisamente que ouvi pela primeira vez questionar a função e a utilidade das áreas protegidas, perguntando-se com razão se não se estaria a proteger uns pedacinhos do território para poder de consciência tranquila ir delapidando os recursos de todo o resto.
A sua perspetiva de proteção da natureza (ele inteligentemente também não gostava da ideia de "conservação da natureza", pela lógica imobilista e estática que implica, e que é de todo oposta ao dinamismo dos sistemas naturais) era, há quase quarenta anos, já baseada no conceito de "sustentabilidade" das paisagens humanizadas. E digo (e repito) a ideia de "paisagens humanizadas" porque não há nesta região do sul da Europa nenhum centímetro quadrado que não tenha sido moldado desde há milhares de anos por esta espécie que somos nós, e ao contrário de referências comuns, não há por isso aqui "paisagens naturais". Se bem me lembro, das conversas que tivemos transpirava sempre uma noção de proteção da natureza para as pessoas, de procurar encontrar caminhos que conduzissem a soluções de convívio harmonioso entre o Homem e a Natureza, tanto mais que, como se sabe, a proteção da natureza (incluindo aqui os recursos físicos e os recursos biológicos) é indispensável para a qualidade de vida e futuro do próprio ser humano.
Nada no que conheci do seu pensamento, e que neste particular eu acompanho totalmente, apontava para uma "conservação da natureza contra as pessoas", mas antes na "proteção da natureza para as pessoas". E esta dualidade no modo de olhar para a gestão do planeta é de uma enorme importância, porque condiciona direta ou indiretamente as ações de instituições e indivíduos. Para proteger a vida deve tirar-se as pessoas do território onde nasceram e que percorreram desde crianças, ou deve mostrar-se o privilégio que é poder viver-se junto de raridades naturais? Deve tirar-se as pessoas do espaço, porque podem eventualmente fazer mal ao animal ou planta que se pretende proteger, ou deve mobilizar-se as pessoas para que protejam os seres vivos em risco, porque são seus? Dito de outro modo, os seres que temos que proteger são pertença de uns senhores de Lisboa, de Bruxelas ou de algures, e por isso não nos podemos chegar a eles, ou são nossos, motivo de orgulho bem nosso, pelo que os nossos antepassados conseguiram preservar, e por isso somos nós mesmos quem os vai defender de qualquer um que os queira destruir?
Num país de tradição centralista e autoritária, em que o mundo rural sempre foi desconsiderado e desprezado, a tendência que dominou a "conservação da natureza" enfermou destes males. Foi muitas vezes uma "conservação da natureza" imposta pelos de "fora", às vezes mesmo uma "conservação da natureza contra as pessoas", atividade de proteção não partilhada com os residentes, não explicada a gentes que um tanto por todo o lado até valorizavam o seu património natural e compreendiam a necessidade de o proteger. Por isso, a proteção do ambiente criou anticorpos nos povos das regiões dos nossos campos um tanto por todo o país e os agentes das organizações de ambiente, embora bem-intencionados, geralmente não conseguiram a adesão e colaboração das comunidades locais.
Com os problemas ambientais que temos pela frente, que se agravam brutalmente a cada ano que passa, é necessário, e é mesmo fundamental, que se consiga encontrar cooperação e entendimento onde antes havia desconfiança. É que, mesmo todos juntos e dando o melhor de nós mesmos, vamos ter problemas no futuro próximo muito difíceis de resolver, e só com muita unidade e trabalho em comum poderemos vir a obter sucesso nesses combates.
Por último quero lembrar que os partidos políticos, que nunca antes se preocuparam seriamente com a qualidade do ambiente em que vivemos, descobriram que nós estamos sensíveis à degradação ambiental e, de repente todos eles passaram a ser muito "verdes". Um dia, se calhar, poderemos falar a este respeito.

O autor utiliza o novo
Acordo Ortográfico



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