12h02 - quinta, 03/09/2020

Taipas da minha terra


Rui Graça
No início dos Anos 90, contrariando a clara tendência de globalização que se acentuava no país, um pequeno grupo de arquitectos começou a reutilizar a taipa nas suas obras.
Alexandre Bastos, Henrique Schreck e Teresa Beirão apostaram nas virtudes da nossa arquitectura tradicional, principalmente na taipa, técnica que consiste na construção de paredes apenas com terra compactada (generalizada no Alentejo até aos Anos 50 e quase em total desuso a partir dessa data). Esta iniciativa, que chegou muitas vezes a ser olhada de lado, resultou num fenómeno que é hoje um caso de estudo e que regularmente atrai à nossa região um leque alargado de especialistas que procura conhecer mais sobre esta forma de construir.
O concelho de Odemira, esquecido tanto tempo pela sua pobreza e reduzida população, é cada vez mais um local de descoberta. Talvez isso explique que o movimento da nova construção em taipa tenha tido o seu epicentro precisamente no concelho de Odemira. Apesar da esmagadora maioria dos arquitectos que constroem em taipa continuarem sediados em Odemira, este fenómeno já extravasou largamente as suas fronteiras, por todo o Alentejo e também Algarve.
Procuraremos nestas páginas (na primeira edição de cada mês) divulgar projetos materializados em taipa no Alentejo, exaltar os conceitos subjacentes a essa lógica construtiva e expor a visão dos seus autores. Acreditamos que será matéria reveladora e surpreendente. Por um lado, porque grande parte das novas construções em taipa se encontra em locais isolados e inacessíveis ao público, por outro lado porque, tal como está a acontecer hoje em dia no fado, esta nova vaga de arquitectura tradicional alentejana tem dado um contributo de tal forma sublime ao nosso património construído, que é música para os nossos olhos…
Trata-se cada vez mais de construções bem estudadas que respondem cabalmente às necessidades dos utentes, quer em conforto quer em modernidade e, porque não dizê-lo, constituindo muitas vezes motivo de orgulho para os seus proprietários: pela beleza da solução arquitectónica e pela magnífica integração ambiental.
Mesmo para fenómenos muito recentes, como as alterações climáticas ou a vida pós-Covid, a arquitectura alentejana responde de forma muito válida. Por reduzir ao mínimo ou mesmo a zero o transporte de materiais e o uso de cimento (a produção de cimento é das actividades mais poluentes do país) e por demonstrar que ainda dispomos de soluções locais para necessidades locais, no que à construção diz respeito (reduzindo a nossa dependência de soluções importadas).
Espero que esta rúbrica seja uma mensagem de esperança, de inspiração e de orgulho na nossa identidade. A arquitectura tradicional alentejana, mais do que uma valiosa herança que devemos cuidar e respeitar, é agora também uma criança que pula de alegria cheia de ilusões e vai descobrindo o seu caminho.





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