12h38 - quinta, 28/09/2023

100º aniversário da viagem aérea Portugal-Macau


António Martins Quaresma
No próximo ano, perfaz um século sobre a realização da viagem aérea que ligou Portugal a Macau, com partida de Vila Nova de Milfontes. Tratou-se de um dos principais "raides" aéreos dos "tempos gloriosos" da aviação. Dois anos antes, Gago Coutinho e Sacadura Cabral haviam voado sobre o Atlântico, entre as cidades de Lisboa e Rio de Janeiro.
Importa, antes de mais, escrever algumas notas sobre a bibliografia que lhe é atinente. Claro que os jornais da época relataram o acontecimento, até com grandes paragonas de primeira página, como podemos ver no Século e no Diário de Notícias, nem sempre isentas de erros e imprecisões. A titulação de "Lisboa-Macau", com que alguns jornalistas designavam a viagem, habituados à anterior "travessia Lisboa-Rio de Janeiro", data dessa altura.
A obra fundamental para o estudo da viagem continua a ser o livro de Sarmento de Beires De Portugal a Macau: a viagem do Pátria, cuja primeira edição se verificou ainda em 1925, através da Seara Nova, importante revista fundada por Raul Proença e um grupo de intelectuais, onde Beires colaborava. O livro teve reedições em 1953 e em 1968, sem qualquer introdução ou prefácio. Recentemente foi bem reeditado, em português e mandarim, pela Afrontamento, graças à Universidade do Porto, com o trabalho das doutoras Isabel Morujão e Rita Pina Brito.
Entretanto, em 1999, fora publicado o livro de Henriques-Mateus Na Esteira do "Pátria", 75 anos depois, deveras ilustrado e com basta informação. Um pequeno erro, na página 124: a menção, baseada em fonte mal informada, acerca da construção do monumento, em Milfontes. De resto, muito mais se escreveu sobre a viagem a Macau. Seja-me permitido destacar um pequeno artigo da minha autoria, na revista História, de Abril de 1984, que serviu para alicerçar as comemorações do 60º aniversário da viagem, em Vila Nova de Milfontes, terra onde a viagem já estava quase esquecida. Artigo com algumas gralhas, cujo mérito se prenderá com os factos de ter sido, eventualmente, o único trabalho sobre a viagem no seu 60º aniversário e o de ter trazido a viagem para o imaginário local e iniciado o processo que conduziu à construção do monumento evocador.
O fim da I Guerra Mundial (1914-1918) marcou o início do veloz desenvolvimento da aviação e da competição entre países pela conquista dos ares e da velocidade, buscando, em arriscadas viagens exploratórias, novas rotas aéreas entre pontos cada vez mais distantes. Não sendo uma potência tecnológica, mas detentor de um império colonial, Portugal entrou na corrida através de alguns homens audazes, militares de profissão, que frequentemente utilizaram o abundante e barato material aeronáutico remanescente do conflito que havia terminado.
Foi assim que, entrada a década de 1920, dois homens do Exército – António Jacinto de Brito Pais e José Manuel Sarmento de Beires – amigos e comungando do mesmo espírito aventureiro, se lançaram em voos sucessivos, o primeiro dos quais entre Lisboa e a Madeira, no ano de 1920, temerária iniciativa que levaram a cabo com um avião com trem de rodas, batizado com o nome romântico de Cavaleiro Negro. Acabaram, no meio do nevoeiro e sem combustível, por amarar de emergência, sendo recolhidos por um navio inglês que passava.
A segunda missão iniciaram-na a seguir ao voo à Madeira, no ano de 1921. Depois de algumas hesitações, escolheram Macau como destino da expedição, iniciando um complexo processo de aquisição do aparelho, de autorizações, enfim, de uma série de obstáculos que houve que vencer para dar princípio à viagem. Nela, Pais e Beires contariam com a participação de um mecânico de escol, Manuel Gouveia.
Na próxima crónica relatarei os principais acontecimentos correspondentes à partida dos aviadores, rumo a Macau, em 7 de Abril de 1924.



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