16h12 - quinta, 05/12/2024

Cinema: breves notas históricas – Odemira


António Martins Quaresma
Alguns pontos prévios. Primeiro, o olhar vai deter-se no período entre 1912 e 1960; segundo, vai restringir-se à distribuição, isto é, à projeção de filmes, não, naturalmente, à produção (embora, episodicamente, também a haja).
Trata-se da evolução de um novo espetáculo que surgiu na passagem do século XIX para o XX e se difundiu rapidamente por todo o país. Recorde-se que, do ponto de vista técnico, ocorre uma evolução significativa, que envolveu, nomeadamente, o movimento das imagens, a passagem do mudo para o sonoro e o aparecimento da cor.
As exibições iniciaram-se, com regularidade, em Odemira em 1912, através do Salão de Animatógrafo Odemirense, pertencente a uma empresa local: a firma Miranda & Filho. Esta possuía uma moderna fábrica de moagem e descasque de arroz, na margem esquerda do Rio Mira, em local de fácil acesso pela ponte recentemente construída, cujas instalações dispunham de requisitos para a projeção cinematográfica. Os espetáculos de cinema estavam, na altura, em propagação: de Lis­boa tinham rapidamente passado para a província, utilizando muitas vezes instalações adaptadas para o efeito. No mês de setembro do mesmo ano de 1912, era anunciada a instalação de outro animatógrafo, em barraca armada no Largo José Maria Lopes Falcão, pertencente ao empresário Rafael Sanchez, que apresentava este tipo de espetáculos no Alentejo e no Algarve.
Um dos irmãos de César Miranda, Armando Miranda, que viveu no Barreiro, foi proprietário e explorou o cinema daquela vila, entre ou­tras atividades desenvolvidas, o que possivelmente ajuda a explicar esta vertente dos negócios da firma Miranda & Filho, de Odemira.
Saltando para os anos de 1930, verificamos a existência de uma empresa local chamada Empresa Cinematográfica Odemirense. A maior parte das pessoas tinha acesso a esse divertimento através de empresas de cinema ambulante. Em Milfontes, por exemplo, na época estival, era montada barraca de cinema, ainda mudo, no Largo Brito Pais (antiga Barbacã, depois designada por Passeio), com sessões animadas, no início e nos intervalos, por um trompetista, versão modesta das orquestras que atuavam nos cinemas das grandes cidades. No mesmo local, ao ar livre, em finais dos anos 40, projeção na parede de uma casa, viam-se filmes comentados vibrante e pitorescamente pelo projecionista. "Fogo nele!", incitava, tonitruante, o comentador, quando, no enredo do western o "rapaz" descobria a espera do "bandido". Procurando interagir com o público, assumia-se como parte da diversão e trocava propositadamente os termos das frases: "Agora, o rapaz monta na menina e vai à procura do cavalo". As peripécias, em geral hilariantes, acompanhavam, pois, essas sessões.
O próprio castelo, na altura devoluto, era aproveitado para o efeito, havendo quem se lembre de ali ter visto, por exemplo, o sucesso popular "Maria Papoila", de Leitão de Barros. Refira-se também que, com António Ferro à frente do SPN/SNI, a "pedagogia" cultural do Estado Novo fez chegar a Milfontes o seu "Cinema Ambulante", com filmes em que se exaltavam os valores "nacionais" e "populares".
Nas décadas de 1950 e 1960, as empresas de cinema, muitas delas ambulantes, difundiram-se na província. Na vila de Odemira, Cine Odemirense e Cine Luz Odemirense, pelas mãos de empresários como Manuel Flecha Rodrigues e Manuel de Oliveira, passavam filmes na vila – num antigo celeiro, no Castelo, no inverno, e no Largo da Misericórdia, no verão. Chegaram também a exibir como ambulantes. De todos eles foi projecionista José Baião da Conceição, deveras conhecido por essa atividade. A vila foi dotada de uma sala, na sede da Sociedade Recreativa Odemirense, cujo salão de baile foi transformado em 1960, hoje o cineteatro Camacho Costa. Em terras como Sabóia e Odeceixe, pequenos distribuidores encarregavam-se de levar o cinema a algumas aldeias do concelho. Mas a maioria das sessões eram realizadas por empresas de fora, como Cine Sonoro Ambulante e Cine Sonoro do Ribatejo, de Manuel Guedes Jorge, de Vale de Santarém, e Empresa Cinema Ambulante, de Flores e Margarido, sociedade de Gavião, no Alto Alentejo.
Algumas das empresas chegaram a instalar-se para passarem temporadas, em grandes tendas e em barracões pré-fabricados, como, em Milfontes, o lembrado Cinema do Cerro (perto do cemitério) e o da Avenida (Avenida Marginal), quando esta era ainda um largo caminho de terra.
É altura de terminar estas breves e esparsas notas, que, espero, contribuam para o conhecimento de um tema, curiosamente, mal conhecido.



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