Livro lembra as Comissões
de Moradores de Odemira

O desafio foi lançado pelo presidente da Câmara Municipal de Odemira aos historiadores alentejanos António Martins Quaresma e Constantino Piçarra.
Um ano e meio depois, aí está a obra, pronta para ser apresentada, o que acontecerá este domingo, 11, na Biblioteca José Saramago.
“O presidente fez-me a proposta, ao que respondi só ser possível com uma equipa. Face à resposta afirmativa, convidei imediatamente o Constantino, bem como mais duas pessoas para auxiliarem na recolha de dados e nas entrevistas: o Jorge Vilhena, arqueólogo e grande conhecedor do território, e a Ana Sofia Ferreira, doutora em História Contemporânea”, recorda António Martins Quaresma, sublinhando que a concepção e redacção do livro, assim como parte do trabalho de recolha de informação, foi feita por Constantino Piçarra e por si.
Odemira - Comissões de Moradores na Revolução de Abril é o título da obra que, segundo explica Constantino Piçarra, está “dividida em três partes”. Numa primeira parte, esclarece, é traçado o quadro da evolução política do país desde o Marcelismo, passando pelo 25 de Abril de 1974 até ao final de 1976. A segunda parte é caracterizada pela acção da Câmara de Odemira desde o 25 de Abril de 1974 até final de 1979.
“Estas primeiras duas partes funcionam como uma espécie de introdução para o fundamental do livro”, esclarece Constantino Piçarra, adiantando que a história das comissões de moradores do concelho de Odemira é a matéria que constitui a terceira parte da obra, “onde se faz o inventário e a análise destas organizações populares de base”.
Com um trabalho de investigação baseado em fontes documentais de arquivo e orais, neste caso entrevistando muitos dos actores desse processo, a obra avançou e relata aquilo que Martins Quaresma classifica como “um extraordinário movimento popular, em que as pessoas se envolveram na solução dos problemas que diziam respeito às suas comunidades”.
“Em toda a área rural do concelho houve mais de 70 lugares que tiveram a sua comissão”, reforça o historiador, secundado logo a seguir por Constantino Piçarra, que vinca o facto de as comissões de moradores, “enquanto organizações autónomas do povo”, terem sido em Odemira “um auxiliar precioso do poder local, tal como a Constituição da República o desenhou, em subordinação total a ele, na resolução dos problemas sentidos pelos habitantes do concelho, como caminhos, estradas, postos médicos e centros de convívio”.
Quarenta anos depois, assinala Constantino Piçarra, “ficou muito pouco dessas comissões de moradores” – “Perderam força no quadro duma sociedade cada vez mais individualista”, reforça o historiador, secundado logo a seguir por António Martins Quaresma.
“Hoje, não há qualquer comissão activa. Algumas estão transformadas em associações culturais, recreativas e desportivas. As razões são várias: desde logo nunca foram regulamentadas, o que configura uma situação de autêntico boicote da constituição pelos próprios políticos eleitos. Depois a sociedade mudou, a situação política também, enfim uma conjugação de factores”, esclarece Martins Quaresma.