A coreógrafa portuguesa Madalena Victorino e o músico francês Rémi Gallet apresentam, neste fim-de-semana, dias 6 a 8 de maio, um espetáculo de dança, música e palavra em Abe-la, no concelho de Santiago do Cacém, que resulta "da convivência" com a população da aldeia.
O espetáculo "Povoado" foi criado por Madalena Victorino e por Rémi Gallet e conta com a participação de inúmeros convidados, entre os quais alguns populares e um rancho folcló-rico, sendo apresentado nos três dias a partir das 20h00.
A produção integra a programação de 2022 do projeto "Lavrar o Mira e a Lagoa As Artes Além Tejo", promovido pela cooperativa cultural Lavrar o Mar, com sede em Aljezur, nos municípios de Santiago do Cacém e de Odemira.
Trata-se de "um projeto multidisciplinar de artes performativas que investiga a possibilidade e as consequências de um contato entre uma aldeia e um núcleo de artistas que vêm de fora" ao longo de quatro semanas, explica ao "SW" Madalena Victorino.
Segundo a autora, a "convivência" entre artistas e população permitiu criar "uma ficção ru-ral", que tem "como ideia o diálogo" e uma "discussão/reflexão sobre o passado e a memó-ria, mas também sobre o futuro".
"Ao encontrar as pessoas da Abela, convidamo-las sempre a colaborar connosco. E a pouco e pouco as pessoas ganharam confiança, ganharam curiosidade e vieram ao nosso encontro", acrescenta também ao "SW" Rémi Gallet.
O "ponto de partida" do espetáculo acabaram por ser as antigas festas de Abela, que acaba-ram em 1994, não com o objetivo de "as refazer", mas sim apontando para "outros pontos de olhar ou pontos de fuga, nomeadamente o futuro", conta Madalena Victorino.
Nesse sentido, "Povoado" "é uma festa, um simples 'programa' e também uma volta pedes-tre por vários sítios, desde os pontos sociais mais fortes da aldeia, que são os seus três cafés, assim como pela escola primária, o clube e o lagar", explica.
"As próprias laranjeiras, que são o ex-libris desta aldeia, não nos escaparam e vão também estar muito presentes como 'ingrediente' forte deste encontro", acrescenta a coreógrafa.
O espetáculo pretende igualmente mostrar os "contrastes sociais" existentes em Abela, entre "uma burguesia rural misturada com pessoas muito pobres e viradas completamente para a vida na terra". "Nesses contrastes encontrámos fios de relações que vamos lançar ao espaço e que esperamos que todos gostem", frisa Madalena Victorino.
Tal como todas as produções assinadas por esta coreógrafa, também "Povoado" apenas será apresentado nestes três dias em Abela.
"O que caracteriza o meu trabalho como coreógrafa é que eu sedimento as práticas artísticas nas quais me envolvo nos locais e com as pessoas. E esse tempo de sedimentação vai ficar na memória e nos afetos das pessoas", conclui.