quinta-feira, 14/10/2021

Milfontes: Notas sobre toponímia urbana (II)


António Martins Quaresma
Alguns edifícios históricos foram determinantes na organização do espaço urbano de Vila Nova de Milfontes, ao longo dos séculos XVII e XVIII. O castelo foi um deles.
Numa rápida apreciação geral da área, verificamos a existência, entre outras, da Rua Pedro Álvares Cabral, que foi antes Rua do Mar; a Rua da Estalagem, referência à estalagem da comenda da Ordem de Santiago, que já se chamou Rua Eng. Joaquim Abranches; a Rua da Alfândega, que, antes, chegou a chamar-se Rua dos Arcos da Estalagem e Rua do Paço do Comendador; e a Rua António José de Almeida, político republicano da ala conservadora, que substituiu o nome anterior de Rua do Castelo. Nenhum dos nomes de personalidades tinha qualquer relação com esta vila.
Fixemo-nos nas antigas Praça e Barbacã.
No passado, a Praça, um espaço relativamente exíguo, ficava em volta da casa da câmara, ou paços do concelho. Nela erguia-se o pelourinho, como era normal. Com a extinção do concelho de Milfontes, a casa da câmara ficou afecta a outras funções, tendo sido escola, talho e prisão, até ser vendida. Hoje, após reconstrução de raiz, é um restaurante. Já o pelourinho foi apeado e os seus materiais dispersos pela área, após a construção, em 1861, da casa, onde foi durante muito tempo o café Mira-Mar, que ocupou parte do espaço e o restringiu ainda mais. Do ponto de vista comercial, além do talho, ali se vendia o pescado e produtos hortícolas. Como referi na última crónica, a Praça foi transferida para local mais amplo e com melhores condições, na década de 1940, e esta designação foi esquecida.
Contígua, sem separação clara, encontrava-se a Barbacã, nome que se relaciona com o castelo. Na verdade, tanto “castelo” como “barbacã” são termos impróprios, pois referem-se a fortificações medievais e não modernas. De facto, trata-se de um “forte” e esse espaço plano era “esplanada”. Sinais da persistência dos termos medievais, estas designações fixaram-se, embora o termo “forte”, por influência da historiografia, se esteja ultimamente a impor, até com o nome próprio de São Clemente, com que foi batizado em 1599, mas nunca usado – mais uma vez responsabilidade da historiografia, neste caso resultado inesperado e até indesejado.
Efetuada a viagem aérea Portugal-Macau, em 1924, todo este espaço recebeu o nome de Largo Brito Pais, comandante da expedição, um odemirense (em rigor, ele nasceu no Monte dos Malveiros, em Santa Luzia). O nome de Barbacã persistiu informalmente, entre alguns “banhistas” habituais, mas curiosamente não entre os milfontenses, que a dada altura, adoptaram o nome de “Passeio” para o espaço em volta do castelo. E durante largas dezenas de anos ficou Passeio e não Barbacã. Ainda outra vez, foi a historiografia que, depois dos anos de 1980, evitou a extinção de “Barbacã”, à custa, porém, de “Passeio”. Muito recentemente, em decisão salomónica, a comissão de toponímia local reservou o nome de Brito Pais para o espaço a norte do murete divisório e o de Barbacã para o de sul. Murete, esclareça-se, cuja construção ocorreu perto de 1960 e que dividiu o espaço em volta do castelo.
Barbacã, Passeio, Largo de Brito Pais, vários nomes, portanto, para um só espaço, que decisão recente acabou por esclarecer, não sem se ter perdido o de Passeio que vigorou entre a população em boa parte do século XX. Quanto a Praça ou Praça Velha, como se disse, também se extinguiu.
Estes dados já os publiquei várias vezes nos últimos 40 anos, mas, não tenho dúvidas, além de muita gente não os ter lido, à medida que cresce a população da freguesia, cada vez são mais as pessoas que os ignoram. Para piorar, alguns não se coíbem de emitir tão desconhecedoras quanto assertivas e, por vezes, belicosas opiniões.
Como disse na última crónica, com esta me vou, sem ter esgotado o assunto.

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