16h08 - quinta-feira, 22/12/2022
Faleceu António Feliciano,
Faleceu António Feliciano,
o “vendedor de sonhos”

António Feliciano, que residia em Vila Nova de Milfontes (Odemira) e era o último projecionista ambulante de cinema em Portugal, faleceu nesta terça-feira, 20, aos 82 anos.
Ao longo da sua vida, António Feliciano percorreu milhares de quilómetros, levando a “magia da sétima arte” aos quatro cantos da região. A par disso, abriu em Vila Nova de Milfontes o Cine Girassol, que funcionou durante décadas e serviu mesmo de inspiração a um tema da banda Os Azeitonas, com letra de Nuno Markl e um videoclip muito especial.
Homem de trato fácil e bom conversador, António Feliciano era igualmente um cidadão ativo, integrando os órgãos sociais de diversas coletividades, entre as quais os Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Milfontes.
Recebeu igualmente diversas distinções, entre as quais a Medalha Municipal de Mérito de Odemira, em 2006, atribuída em reconhecimento pela sua "extraordinária ação em prol da comunidade enquanto agente da cultura, designadamente no cinema, junto da população odemirense, do Alentejo e até do país, ao longo de muitos anos".
Na reunião do executivo municipal desta quinta-feira, 22, a Câmara de Odemira aprovou um voto de pesar pelo falecimento de António Feliciano
"Para este grande Homem, que foi o último projecionista ambulante, 'a cultura é para todos e deve chegar a todos', e foi com base nessa máxima e com grande esforço que construiu em Vila Nova de Milfontes a primeira sala de cinema do concelho de Odemira: o Cineteatro GiraSol", sustenta o voto de pesar da autarquia odemirense.
Uma vida plena
António Feliciano nasceu em Sabóia, no concelho de Odemira, no ano de 1939. Filho mais velho de uma família que vivia, essencialmente, da agricultura e do ofício de abegão do pai, teve uma infância “bonita” e cedo se deixou levar pelo encanto do cinema.
“Tinha quatro ou cinco anos, quando um desses projecionistas ambulantes apareceu lá na terra. A gente juntava-se atrás da carrinha até à Casa do Povo, que era onde se fazia o cinema, até que ele um dia me chamou e me deu umas fotografias para distribuir pelo centro da aldeia. A partir daí fiquei fã do senhor e fascinado pelo cinema”, contou em maio de 2009 à revista “30 DIAS”.
Anos mais tarde, foi o próprio António Feliciano quem tratou de trazer para a aldeia o cinema, depois de Sabóia ter deixado de constar na “rota” dos projecionistas ambulantes. Estava dado o primeiro passo para aquilo que seria, para sempre, a sua vida. Já casado e feito empresário, António Feliciano conseguiu erguer o sonho de ter a sua própria sala de cinema, mas a necessidade de rentabilizar o investimento realizado levaram-no a começar a visitar as localidades mais próximas com o seu projetor. “É aí que surge o meu cinema ambulante”.
Desde então, nunca mais deixou de andar com o “cinema às costas”. Nem mesmo quando teve de fechar a sala em Sabóia e partir rumo a Lisboa, já com dois filhos, e empregar-se num escritório. Nessa altura, “matava o bichinho” das saudades do Alentejo vindo ao fim-de-semana e trazendo na mala dois ou três filmes que ia mostrando em algumas localidades.
A rotina prolongou-se até à Revolução dos Cravos, data que, tal como na maioria dos portugueses, provocou muitas mudanças na vida de António Feliciano. Desempregado e divorciado, encontrou finalmente o motivo para deitar tudo para trás e perseguir o sonho. Decidiu regressar ao Alentejo, carregando na bagagem a cada vez maior paixão pelo cinema e uma enorme vontade de aproveitar o boom de uma arte tantos anos agrilhoada pela censura salazarenta.
Foi nessa altura que António Feliciano se fixou em Vila Nova de Milfontes, de onde nunca mais saiu. Ao mesmo tempo, continuou a andar de terra em terra com o seu projetor e assumiu a gestão de algumas salas espalhadas pela região. As décadas de 80 e 90 “foram a melhor fase da minha vida e do meu negócio”, dizia.
Depois de quatro décadas a calcorrear as estradas do sul do país, António Feliciano passou a dedicar-se mais à sua sala em Vila Nova de Milfontes, o Cine Girassol, que ao cinema ambulante. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, mas mesmo assim, de quando em quando, António Feliciano mata as saudades do projetor saía para a estrada com o intuito de “vender o sonho” da sétima arte aos sítios mais recônditos da região.
“É engraçado ir àqueles lugares onde ia há 20 ou 30 anos e de repente aparecer com um filme. E as pessoas ainda se aperaltam para ir ver o filme”, revela, para questionar: “Como é que numa terra como Sabóia ou Luzianes as pessoas têm direito a usufruírem de um espaço poético em conjunto se não for no cinema? É esta a magia [do cinema]. As pessoas deixam de pensar nos problemas que têm lá fora e concentram-se no filme”.
O olhar fixo na tela e o modo carinhoso como arruma o projetor depois de mais uma sessão confirmavam o ardor da paixão que António Feliciano dedicou ao cinema. Porque, rematava com o maior desassombro possível, a sétima arte, ao contrário de muitas pessoas, nunca o “desiludiu”.
Em 1997, num documentário realizado por Rosa Coutinho Cabral, o também falecido Camacho Costa chamou a António Feliciano, com a simplicidade dos grandes momentos, “o vendedor de sonhos”. Um “cognome” com uma forte carga de romantismo que António Feliciano nunca rejeitou. “As paixões são difíceis de controlar. O cinema foi uma coisa em que me meti… E acabei por me apaixonar”.
Ao longo da sua vida, António Feliciano percorreu milhares de quilómetros, levando a “magia da sétima arte” aos quatro cantos da região. A par disso, abriu em Vila Nova de Milfontes o Cine Girassol, que funcionou durante décadas e serviu mesmo de inspiração a um tema da banda Os Azeitonas, com letra de Nuno Markl e um videoclip muito especial.
Homem de trato fácil e bom conversador, António Feliciano era igualmente um cidadão ativo, integrando os órgãos sociais de diversas coletividades, entre as quais os Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Milfontes.
Recebeu igualmente diversas distinções, entre as quais a Medalha Municipal de Mérito de Odemira, em 2006, atribuída em reconhecimento pela sua "extraordinária ação em prol da comunidade enquanto agente da cultura, designadamente no cinema, junto da população odemirense, do Alentejo e até do país, ao longo de muitos anos".
Na reunião do executivo municipal desta quinta-feira, 22, a Câmara de Odemira aprovou um voto de pesar pelo falecimento de António Feliciano
"Para este grande Homem, que foi o último projecionista ambulante, 'a cultura é para todos e deve chegar a todos', e foi com base nessa máxima e com grande esforço que construiu em Vila Nova de Milfontes a primeira sala de cinema do concelho de Odemira: o Cineteatro GiraSol", sustenta o voto de pesar da autarquia odemirense.
Uma vida plena
António Feliciano nasceu em Sabóia, no concelho de Odemira, no ano de 1939. Filho mais velho de uma família que vivia, essencialmente, da agricultura e do ofício de abegão do pai, teve uma infância “bonita” e cedo se deixou levar pelo encanto do cinema.
“Tinha quatro ou cinco anos, quando um desses projecionistas ambulantes apareceu lá na terra. A gente juntava-se atrás da carrinha até à Casa do Povo, que era onde se fazia o cinema, até que ele um dia me chamou e me deu umas fotografias para distribuir pelo centro da aldeia. A partir daí fiquei fã do senhor e fascinado pelo cinema”, contou em maio de 2009 à revista “30 DIAS”.
Anos mais tarde, foi o próprio António Feliciano quem tratou de trazer para a aldeia o cinema, depois de Sabóia ter deixado de constar na “rota” dos projecionistas ambulantes. Estava dado o primeiro passo para aquilo que seria, para sempre, a sua vida. Já casado e feito empresário, António Feliciano conseguiu erguer o sonho de ter a sua própria sala de cinema, mas a necessidade de rentabilizar o investimento realizado levaram-no a começar a visitar as localidades mais próximas com o seu projetor. “É aí que surge o meu cinema ambulante”.
Desde então, nunca mais deixou de andar com o “cinema às costas”. Nem mesmo quando teve de fechar a sala em Sabóia e partir rumo a Lisboa, já com dois filhos, e empregar-se num escritório. Nessa altura, “matava o bichinho” das saudades do Alentejo vindo ao fim-de-semana e trazendo na mala dois ou três filmes que ia mostrando em algumas localidades.
A rotina prolongou-se até à Revolução dos Cravos, data que, tal como na maioria dos portugueses, provocou muitas mudanças na vida de António Feliciano. Desempregado e divorciado, encontrou finalmente o motivo para deitar tudo para trás e perseguir o sonho. Decidiu regressar ao Alentejo, carregando na bagagem a cada vez maior paixão pelo cinema e uma enorme vontade de aproveitar o boom de uma arte tantos anos agrilhoada pela censura salazarenta.
Foi nessa altura que António Feliciano se fixou em Vila Nova de Milfontes, de onde nunca mais saiu. Ao mesmo tempo, continuou a andar de terra em terra com o seu projetor e assumiu a gestão de algumas salas espalhadas pela região. As décadas de 80 e 90 “foram a melhor fase da minha vida e do meu negócio”, dizia.
Depois de quatro décadas a calcorrear as estradas do sul do país, António Feliciano passou a dedicar-se mais à sua sala em Vila Nova de Milfontes, o Cine Girassol, que ao cinema ambulante. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, mas mesmo assim, de quando em quando, António Feliciano mata as saudades do projetor saía para a estrada com o intuito de “vender o sonho” da sétima arte aos sítios mais recônditos da região.
“É engraçado ir àqueles lugares onde ia há 20 ou 30 anos e de repente aparecer com um filme. E as pessoas ainda se aperaltam para ir ver o filme”, revela, para questionar: “Como é que numa terra como Sabóia ou Luzianes as pessoas têm direito a usufruírem de um espaço poético em conjunto se não for no cinema? É esta a magia [do cinema]. As pessoas deixam de pensar nos problemas que têm lá fora e concentram-se no filme”.
O olhar fixo na tela e o modo carinhoso como arruma o projetor depois de mais uma sessão confirmavam o ardor da paixão que António Feliciano dedicou ao cinema. Porque, rematava com o maior desassombro possível, a sétima arte, ao contrário de muitas pessoas, nunca o “desiludiu”.
Em 1997, num documentário realizado por Rosa Coutinho Cabral, o também falecido Camacho Costa chamou a António Feliciano, com a simplicidade dos grandes momentos, “o vendedor de sonhos”. Um “cognome” com uma forte carga de romantismo que António Feliciano nunca rejeitou. “As paixões são difíceis de controlar. O cinema foi uma coisa em que me meti… E acabei por me apaixonar”.
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